Em recente documento divulgado pela B3, intitulado “Sustentabilidade e Gestão ASG nas Empresas: como começar, quem envolver e o que priorizar”, o conceito do título deste artigo foi mencionado como um dos predecessores do que atualmente – e com algumas nuances diferentes – se convencionou chamar de ESG.
Recorrendo a diversas fontes, pode-se dizer que a responsabilidade social corporativa seria uma forma de autorregulação corporativa integrada em um modelo de negócios que busca promover a geração de valor não apenas para a empresa, mas também para seus stakeholders.
A empresa, então, ao mesmo tempo que exerce seu objetivo social com fins econômicos claros, monitora e garante que esse seu desempenho se dê dentro do espírito da lei, normas éticas e normas internacionais. Em alguns modelos, a implementação do CSR em uma empresa vai além da conformidade e envolve também “ações que parecem promover algum bem social, além dos interesses da empresa e o que é exigido por lei”.
Seria um processo com o objetivo de assumir voluntariamente a responsabilidade pelas ações da empresa e incentivar um impacto positivo através de suas atividades no meio ambiente, consumidores, funcionários, comunidades, partes interessadas e todos os outros membros da esfera pública, que também podem ser considerados partes interessadas.
Segundo a UNIDO – United Nations Industrial Development Organization, agência especializada das Nações Unidas na promoção e aceleração do desenvolvimento industrial e econômico sustentável, “a Responsabilidade Social Corporativa é um conceito de gestão pelo qual as empresas integram preocupações sociais e ambientais em suas operações de negócios e interações com seus stakeholders. A RSE é geralmente entendida como sendo a maneira pela qual uma empresa alcança um equilíbrio entre os imperativos econômicos, ambientais e sociais (“Abordagem Triple-Bottom-Line”), ao mesmo tempo em que atende às expectativas dos acionistas e stakeholders.”
Vale destacar que a RSC se aplica a todos os tipos de negócios, independentemente do tamanho, maturidade ou estrutura organizacional.
Bem parecido com a agenda ESG e a atenção aos stakeholders, não?
Sim, qualquer semelhança não é mera coincidência.
E falando em abordagem Triple Bottom Line (TBL), como bem destacou a B3, os méritos dessa teoria vão para o britânico John Elkington, que em 1994 criou esse termo que influenciou bastante a incorporação de critérios socioambientais pelas empresas, segundo o qual as empresas têm a responsabilidade de equilibrar os retornos econômicos, sociais e ambientais de suas operações.
Aliás, como muito se diz, “os conceitos de responsabilidade social e de sustentabilidade empresarial partem da premissa de que entidades públicas ou privadas têm compromissos com a sociedade, que vão além do cumprimento de suas obrigações legais”.
No conceito de Elkington, idealmente a empresa deveria mensurar seus resultados a partir de 3 pilares básicos (3PL), sendo pessoas, planeta e lucros (ou people, planet and profit), a fim de que a gestão da empresa pudesse demonstrar seus resultados a partir dessas bases, conduzindo seus negócios visando a parte econômica, seus impactos ambientais e como ela se relaciona com seus colaboradores.
Segundo John, seria social e corporativamente responsável a empresa que atingisse notas de sucesso nessas três bases.
Seguindo a cronologia, temos em 2010 a publicação da ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social, segundo a qual “a responsabilidade social se expressa pelo desejo e pelo propósito das organizações em incorporarem considerações socioambientais em seus processos decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente”.
Segundo a ISO 26000, a responsabilidade social implica no comportamento ético e transparente que contribui para o desenvolvimento sustentável, em conformidade com as leis aplicáveis e os padrões internacionais de comportamento. Também implica que a responsabilidade social esteja integrada em toda a organização, seja praticada em suas relações e leve em conta os interesses das partes interessadas1.
Ora, se ao invés de bases falarmos em pilares, e ao invés de “pessoas, planeta e lucros” falarmos em “ambiental, social e governança corporativa”, temos um claro alinhamento de ideias entre a CSR e o ESG.
Fato é que, não obstante a agenda ESG estar sendo comentada mundialmente com mais entusiasmo nos últimos dois anos, seu conceito está baseado em avaliações, estudos e conclusões que remetem aos anos 90, 80, e até 70, se considerarmos a ideia do capitalismo de stakeholders de Klaus Schwab2.
Neste cenário, as conclusões parecem ser duas: i) sim, você já deve conhecer o conceito de CSR, RSE ou ainda RSC, e até deve tê-lo praticado na empresa em que trabalha, e ii) você percebeu a imensa similaridade entre CSR e ESG.
Ora, se ainda há uma resistência no mercado em relação à importância e relevância da agenda proposta pelas práticas ESG, atribuindo a ela inclusive um viés ideológico e político dos tempos atuais, válido saber que o conceito macro por detrás dessa ideia vem de décadas de estudo, e quanto antes as colocarmos em prática em nossos ambientes de interação – trabalho, família, amigos – melhor, sobretudo para as próximas gerações.
[1] http://www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/iso26000.asp
[2] https://www.fius.com.br/capitalismo-de-stakeholder-conhece/